Soneto 1: VELHO TEMA
Só a leve esperança, em toda a vida, disfarça a pena de viver, mais nada; nem é mais a existência, resumida, que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada, sonho que a traz ansiosa e embevecida, é uma hora feliz, sempre adiada, e que não chega nunca em toda vida.
Essa felicidade que supomos, árvore milagrosa que sonhamos toda arreada de dourados pomos,
existe, sim; mas nós não a alcançamos, porque está sempre apenas onde a pomos, e nunca a pomos onde nós estamos.
Vicente de Carvalho
Soneto 2: DUAS ALMAS
Ó tu que vens de longe, ó tu que vens cansada, Entra, e sob este teto encontrarás carinho: Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho. Vives sozinha sempre e nunca foste amada...
A neve anda a branquear lividamente a estrada, E a minha alcova tem a tepidez de um ninho. Entra, ao menos até que as curvas do caminho Se banhem no esplendor nascente da alvorada.
E amanhã quando a luz do sol dourar radiosa Essa estrada sem fim, deserta, horrenda e nua, Podes partir de novo, ó nômade formosa!
Já não serei tão só, nem irás tão sozinha: Há de ficar comigo uma saudade tua... Hás de levar contigo uma saudade minha...
Alceu Wamosy
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